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"
O livro caindo n'alma, É germe - que faz a palma, É chuva - que faz o mar".
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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Resenha do Livro "Mitos, Emblemas, Sinais" de Carlo Ginzburg


Por Gabriel dos Santos Birkhann
Foto: Facebook do Resenhista

O livro "Mitos, Emblemas, Sinais" do historiador italiano Carlo Ginzburg (1939-) reúne sete ensaios preciosos e precisos, a respeito dos mais variados temas (¹), sendo o mais famoso deles o intitulado "Sinais: Raízes de um paradigma indiciário".(²).
O primeiro ensaio "Feitiçaria e piedade popular: notas sobre um processo modenense de 1519" contem uma análise de um processo contra Chiara Signorini, que afirmou ter lançado um malefício sobre sua ex-patroa Margherita, que havia expulsado Chiara de sua propriedade, afirmando que a mesma (Margherita) só seria curada se (ela,Chiara)fosse novamente admitida na propriedade da ex-patroa.
No segundo ensaio "De A. Warburg a E. H. Gombrich: Notas sobre um problema de método" há um estudo a respeito dos estudos iconológicos e iconográficos perante o conhecimento da História, observando os estudos de Warburg  sobre a influência da Antiguidade Clássica durante a Arte do período renascentista.
Em "O alto e o baixo: o tema do conhecimento proibido nos séculos XVI e XVII” Ginzburg analisa como a "condenação da soberba moral pronunciada por São Paulo tornou-se uma censura contra a curiosidade intelectual" (p.95), através da interpretação de todo um contexto histórico. (³)
No quarto ensaio "Ticiano, Ovidio e os códigos da figuração erótica no século XVI" Ginzburg observa a repercussão das imagens eróticas no século XV e comentários sobre a mesma (de Santo Agostinho ao "polemista dominicano" Politi), analisando as distinções das imagens entre as classes "altas" e "baixas" e procurando entender o modo como Ticiano compreendia o que lia de diferentes autores e como usava suas leituras em suas pinturas.
Em "Sinais: Raízes de um Paradigma Indiciário" o autor estuda o surgimento de um 'modelo indiciário', sobretudo a partir das conexões feitas entre o especialista de arte Morelli, o detetive Sherlock Holmes e Freud, o "pai da psicanálise".  É o ensaio mais famoso de Ginzburg e o responsável por renovar ("buscar com novos olhares sob uma nova luz", como afirmo) a Historiografia mundial.
Em "Mitologia Germânica e Nazismo: sobre um velho livro de Georges Dumézil" Ginzburg problematiza o livro "Mythes et dieux des Germains" (estudo da relação entre mitologia germânica e o Reich de Hitler) de Georges Dumézil e sobretudo uma resenha do judeu Marc Bloch a respeito desse livro ( Bloch via nesse livro de Dumézil "uma contribuição crítica esclarecedora sobre a Alemanha de Hitler" 4).
No último e sétimo ensaio (5) do livro "Freud, o homem dos lobos e os lobisomens" o italiano relê um caso clínico célebre enfrentado por Freud (um paciente que sonhou com lobos) e através do sonho desse paciente, Ginzburg observa nele o que Freud não percebeu, afirmando que "não podemos ignorar que no sonho do homem dos lobos irrompe um conteúdo mítico mais antigo, reencontrável também nos sonhos (êxtases, desfalecimentos, visões) dos andarilhos do bem, dos táltos, dos lobisomens, das feiticeiras" (p.216-217).
Cada um desses ensaios forma um todo que revela a habilidade e inteligência de Ginzburg, que passa por diversas áreas do saber com a mesma desenvoltura.
Cada um desses ensaios, com suas peculiaridades, serve a uma área diferente do conhecimento humano: seja para a Arte, a Psicanálise, o Direito, a Literatura e História, ou Antropologia (6 ), sem falar no quarto e no sétimo que se relacionam com os estudos da "circularidade cultural" (tema tão caro a Ginzburg em "O Queijo e os Vermes").
É um livro extremamente importante, valioso.
Eu espero que superadas, as habituais dificuldades (Ginzburg is Ginzburg), que esse livro possa ser lido por vocês da mesma forma que eu o li: com prazer, dedicação, "espírito de aventura" e com a tão famosa "euforia da ignorância" proposta por Ginzburg (7).
NOTA:
(¹) Conforme GINZBURG coloca no Prefácio: "Esta coletânea compreende textos publicados entre 1961 e 1984", sendo o último ensaio inédito (sic).
(²) Analisado por mim aqui: http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paradigma-indici-rio-an-lise-de-modelo
(³) "O alto e o baixo" é em minha opinião "o melhor ensaio" junto com "Sinais".
(4) Página 183.
(5) Esse ensaio deveria ser obrigatório em Cursos de Psicologia.
(6 ) No livro "A Micro- História e outros ensaios" há um ensaio interessantíssimo intitulado “O inquisidor como antropólogo: uma analogia e suas implicações” que possui uma profunda reflexão sobre as relações Inquisidor- Antropólogo/Historiador.
(7) Ver "Extra Classe – O que é euforia da ignorância?" em < historiaupf.blogspot.com.br/2011/03/entrevista-carlo-ginzburg.html >.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas, Sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, 2ª edição, 2ª reimpressão, 2007.



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